Batia os punhos cerrados naquele rosto, virados como martelos, cravando os ossos, já não mais sentindo-os. Desfigurava-o. Atualizava espasmos efusivos de agressividade, gritava alto, com as mãos, braços, o corpo inteiro, cada músculo contraído. Saía-lhe de dentro um demônio encolerizado, parecendo quebrar os dentes numa mordida histérica. Era um monstro esfomeado estraçalhando sacos de lixo, abrindo as entranhas e arregaçando as costelas. Manifestava ódio idiotizado, contudo. Era mais a inflamação progressiva de um piparote sem valor. A vingança; uma trepada com o pau inchado, só por friccionalidade e dor. Abocanhava os olhos, espatifando, arrancando tufos de cabelos macios. Um tesão nevrálgico, atritoso. Os joelhos pisados, marretados, como galhos secos. Mordia as unhas e arrancava-as inteiras. Havia idiotismo naquela expressão, como quem fosse tomado por um embasbacamento da raiva, como quem perdesse a compostura num orgasmo ensandecido, e já olhasse em torno o cadáver ultrajado, a boca esporrada. Vidrava-se naquilo e parecia ver de outro lugar, ou talvez de lugar nenhum, mas não d`ali. Uma feição meio retangular de mongolóide. Chutou-lhe a testa, apertou-lhe os bagos. Não era por nada, nem por alguma coisa. Muita consubstanciação da coisa nela mesma, muita dramaticidade, mas não por nada nem por outra coisa, só por isso mesmo.