Thiago Monteiro Chaves
"Há três tipos de filósofos: os céticos, os dogmáticos e aqueles que sempre repetem que há dois tipos de filósofos (os céticos e os dogmáticos), sem nunca ter se preocupado em saber o que é um filósofo. Mas na verdade, há vários tipos de filósofos: há filósofos barbudos, com barbas feitas, que usam óculos, que nunca usaram óculos, que são carnívoros ou vegetarianos, que nasceram em Atenas ou em Estagira, e há também aqueles que se preocupam e, mais que isso, se ocupam com esses detalhes.
A filosofia, diferentemente das ciências naturais ou mesmo das humanas, não é uma ciência tal como usamos normalmente essa palavra. Pois, dizem alguns, a filosofia não fala sobre objetos mundanos, empíricos ou factuais: ela fala sobre gregos, troianos, latinos e alguns poucos austríacos e alemães. Há uma ou duas amostras de filósofos na Inglaterra, mas poucos eficazes com as palavras. Aliás, segundo essa visão, a filosofia é um estudo das palavras, em especial as que ninguém entende muito bem, como eudaimonia, ataraxia ou heraclitianismo. Para se estudar filosofia, é preciso saber ler ao menos grego e latim, e talvez alemão. Não é preciso saber português, pois não é necessário se comunicar.
Existem pelo menos quatro filósofos importantes: Platão, Aristóteles, Descartes e Joaquim. Os três primeiros são realmente filósofos, já o último é uma categoria genérica do que chamamos, na academia, de “filósofos-gravadores”. Gravadores são coisas que gravam, reproduzem, regravam o que reproduzem, e repetem o que regravam. Todos os outros filósofos que não são nem Platão, Aristóteles ou Descartes, são do tipo “Joaquim”.
Para se estudar filosofia é preciso um dicionário de grego, latim e talvez alemão. Já para alguém ser um bom filósofo, é preciso um bom dicionário de grego, latim e talvez alemão. Como dissemos, a filosofia difere das ciências, porque não fala de nada. Aliás, somente escreve. Dizem que o objeto da filosofia é o texto e, para além do texto, a história da filosofia. Por isso Platão foi um privilegiado, pois escolheu aquilo que os outros filósofos viriam a discutir no futuro: a dialética. A dialética é a única teoria da filosofia, e é uma teoria sobre tudo. Tudo é dialética. Uma imagem é dialética, a experiência é dialética, a consciência é dialética e, surpreendentemente, a dialética é dialética. Se Platão fosse um viciado em queijos, a filosofia falaria de queijos, e tudo seria queijo. A dialética seria queijo. O objeto da filosofia foi assim acidental, mas o tratamento desse objeto precisou receber bastante precisão: foi preciso aprender a esquecer tudo o que é razoável e intuitivo, e a aprender a repetir o que é extraordinariamente tolo e insignificante."
2 comentários:
legal saber disto
seria todos os mestres joaquins?
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