quarta-feira, novembro 16, 2005

CARDIOPATIA

...mas quando Lili foi embora eu já não possuia aquela linha que policiava minhas conexões, meus remendos... era uma enorme mistura, engalfinhado e amordaçado nas tramas amarrotadas do apartamento. Um chicletes gigante havia me grudado naquela nojeira, estava ajuntando meus fracassos aos aderentes daquela gosma... Muita gente vindo interromper o mastigar... A solidão assaltava-me de dentro pra fora, como se fosse embora de mim mesmo, para um lugar tão só... sem saudades, sem mágoas, sem ninguém, sem-migo-mesmo... Enfiava a cabeça entupida de tralhas num balde de álcool, aliviava-me da matéria impregnante, como os cadáveres em velórios floridos... Todo aquele cheiro forte, aquela seriedade, os olhos ardendo noite em claro, a boca machucada de café e cigarro, o morto no meio... duas pelotas de algodão socadas, uma em cada narina... formol... Se sentisse, sentisse certo gelado anestesiante. Não exatamente triste, nem melancólico... não uma fotografia de pôr-do-sol com chuva, nem precisamente Chopin ou Tchaikovsky com vodca, tão assim na pele... Algo mais seco, mais agulha chiando depois do disco. O amor era então uma coisa entorpecente que me lambuzava. Ela estava escondida nos mais brutos vestígios daquela alucinação...

2 comentários:

Chris disse...

ela subliminar em agulhas rompidas.gostei do texto,e daqui. vou poder te ler mais então.
beijo.

Alex Lara disse...

Bom. Nota... Só uma coisa... acho que ficaria melhor se tirasse essas reticências do meio do texto... São desnecessárias... Ou então... aperta o enter de uma vez e transforma isso em poesia... O justo é deixar apenas duas, a do início e a do fim.