quarta-feira, novembro 30, 2005

Hipodérmico

Amanhece escuro, mais dentro que fora. A boca saliva, mais fenda que circunferência. Os pés quase chão carinhosamente frio. Desses dias escondidos, ontologicamente escassos, mais assobiados ao longe, contigüidades inescrutáveis. Um ventinho só por vez soprando leve, esticando em teso, fibras silenciosamente enrigecidas, as coisas em balões infláveis. O vazio gigante, abismático, buraco negro, cuspindo ao contrário meu rosto da janela. Remelas e cheiro de chuva. Ninguém em lugar nenhum, alguém sempre por ali, invadindo meus orifícios dilatados, costurando-me ao mundo. Apaziguado sincreticamente. O quarto avançando as ruas, avenidas, centros comerciais. Cobertores estirados nos postes. Apalermado, tateando paredes enfronhadas. Tudo bocejando, uoaaahhh... Dentro, algum orvalho com certo bucolismo. Saudade, saudade, saudade.

Um comentário:

Chris disse...

se não fosse o bocejo seria sem nenhuminha reticencia,[quase].
pelo menos não foi na saudade.saudade merece uma vírgula, no máximo duas e um ponto final.

beijo.