domingo, dezembro 25, 2005

TUDO NOVO DE NOVO

O móvel bonito da sala lembrava a infância, com almofadas bem grandes, onde escondíamos os brinquedos, impregnadas dos peidos atleticanos de outra época mais farta, alguma cerveja, não muitas, suficiente para duas ou três travessas de amendoim. “Sucupira legítima!” dizia meu tio já um tanto bêbado, não muito, suficiente para cinco ou seis frases improvisadas. No cantinho um som desses vitrine-pontofrio, cintilando enfeites digitalizados, dançando a música, voz-muito-bonita-do-miltomnascimento. ...quem será que ganha eleição... acho que o Lula foi corrompido... é preciso buscar mais amor no mundo... fulano está internado por causa de drogas... já ouviu aquela do português... esse ano passou rápido demais... não coloca muita coca pra mim, só um pouquinho... dizem que na próxima novela ele vai ser homossexual... difícil para um pai... Vovô encostado, primeiro olhando com certa seriedade o sapato sem cadarços, presente do Papai-Noel... como firmar os pés? Depois, olhos fechados, muito concentrado, triste, decepcionado com brasileirão, zzzzzzzz... Fotos da França, máquina digital, quinze só da Torre Eiffel, duas do museu, Monet... uma pena que estas tenham ficado embaçadas. Mistério nos embrulhos ao pé da árvore de bolotas brilhantes, só um pouco, na verdade dois canivetes suíços [hi,hi, coincidência], agenda, porta-retrato, cd do Caetano, coleção Milenium... como foi que adivinhou? Casa toda colorida, lambuzada de doces, três que se juntaram ao palpite do velho... cansados, coitados! Já quase duas também... Feliz natal, ano novo, tudo novo de novo...

2 comentários:

Alex Lara disse...

Meu natal não teve desse refri ai não. Pena, só cerveja e beck. Fiquei lembrando também tempos melhores, épocas mais fartas.
O réveillon tá aí, né? E o futuro... o futuro a Deus pertence.
ps.: tô colocando meus textos antigos na rede, passa lá que num tem nada de novo. Até.

Anônimo disse...

Todos nós somos incompletos, somos vazios em algum ponto de nossa existência. Ao lidarmos com o vazio e com nossos anseios não satisfeitos, desenvolvemos - mesmo que sigilosamente - a nossa fragilidade, ou a infidelidade consigo mesmo. Mas é a tal fragilidade que nos permite compreender os outros e aceitar respeitosamente um mundo tão diverso e variado. A maioria nega o aspecto frágil de sua própria natureza. Muitos evitam falar do que tange a sua fragilidade (dinheiro, afeto, alguma inferioridade), mas apesar do que falamos ou não, os nossos atos confirmam que não "somos" mais sempre "estamos". Nunca estamos configurados, somos sempre um vir-a-ser, um tornar-se. Daí se entende porque a dor define a nossa vida toda.
Cacique OKOmum